grindcore morto

Sobre os garotos no shopping internacional de guarulhos

ou "SOBRE OS DIAS QUE SHOPPING AINDA NÃO ERA DECORADO COM SACO PARA CADÁVER"

Já se passaram dois dias, não é mais novidade e também não foi a primeira vez que a sobreposição Juventude Periférica x shopping centers deu a merda que se pode esperar desse tipo de menina dos olhos do capitalismo, lembremos dos incidentes no shopping vitória (link) e shopping Itaquera (link).

O evento mais recente foi dia 16 de dezembro, no Shopping Internacional de Guarulhos, em que via facebook cerca de 300 garotos se reuniram lá. Para terror de elites endinheiradas, como se pode comprovar na reportagem asquerosamente elitista da fAlha de $.paulo (link). 


Então, começou a acontecer. As pessoas (Sim, PESSOAS) que são empurradas para as margens (os "marginalizados"), as pessoas que erguem e carregam nas costas esses pequenos "paraísos" decidam retornar para lá. Levam consigo toda sua carga histórica estampada cicatrizada na face, levam todo vácuo cultural, educacional que foi imposto a eles. Quem sabe assim bastante burguês, bastante classe méRdia pode conferir sem muitas escoriações o resultado da estrutura social que eles tanto defendem? 



Agora sobra um papinho mastigado-cuspido-mastigado-outra-vez-cuspido-outra-vez, de rezende, de datena sobre vergonha na cara, falta do que fazer, moral... a mesma ladainha de sempre que escrotos conservadores soltam quando querem dar um ponto final rápido na compreensão - compreensão visando solução - de qualquer assunto.

Mas e se fossem 300, 500 jovens da vila madalena, alto de pinheiros, alphaville (-Massacrem alphaville!-)...? Se fossem eles tomando todos os cantos do shopping, rindo, com canções brincando acerca de maconha (E algo parece dizer, "acho que playboy também fuma maconha...")
Será que a comerciante da reportagem também juraria que viu alguns deles armados? (algo me diz que "nem fodendo..."!)
Será que teria deles sendo tirados de dentro do shopping conduzido para a delegacia, levando chave de braço? será que teria foto nessa porra dessa fAlha de $.paulo expondo a cara do menor de idade (se fosse ele filho de executivo)?

Na canção do Lumpen, 
"ouça os gritos a luta de classes não acabou" 

A fome de consumo material é uma arma de calibre alto, bem municiada, que vem sendo usada na cabeça dessa juventude, por essas oligarquias, nessa luta de classes aí mencionada pelo Lumpen...



Felizes de nós, que tivemos cada um algum tipo de formação e estruturação, cada um à sua maneira, pra podermos estar aqui discorrendo sobre o ocorrido e que mesmo se tivéssemos, não gastaríamos nunca mil reais em tênis ou esse tipo de coisa...

Mas o ser humano é gregário, quer mostrar virtudes, habilidades, capacidades em seu meio social. Se desde épocas nem-se-sabe-de-quando, vêm fazendo uma lavagem cerebral generalizada dizendo que o "top" é quem usa a marca tal, tem o calçado isso, a roupa aquilo, o celular uvwxyz-ponto-cinco, e se insiste sistematicamente na anulação da personalidade, do espírito coletivo, apoio mútuo, solidariedade em geral...

Fatalmente que é com essas cartas que essa garotada aí - VÍTIMA desse amontoado de coisas e NÃO CULPADA por ele - vai jogar. São essas as únicas cartas que têm.

O curioso dessa situação na matéria, é que tendo jogado com exatamente TODAS as cartas que lhes foram dadas pra jogar...ainda assim os meninos foram tirados de cena. Como se explica isso...? Sem maconha, sem roubo, sem armas, sem resistência à prisão, sem violências, trajando até as vestes típicas do lugar... Como se explica, se não for RACISMO? 
E triste, tem mais olhares voltados a uma arruaça QUE NÃO ACONTECEU, do que a uma situação de exclusão e discriminação, QUE ACONTECEU com suporte e aparato corporativo e estatal.



Não demora muito e gente feito a empresária - do ramo de caminhões de mudança que jurava ter visto jovens com revólveres e que acha que "Tem de proibir esse tipo de maloqueiro de entrar num lugar como este", - desejará ardentemente voltar aos dias em que esses grupos de jovens apenas se reuniam nos shoppings, cantado suas canções próprias, rindo e querendo se sentir parte do todo... dias em que shopping não era paisagem montada com dezenas de saco pra cadáver. Na profecia sempre pontual do Facção Central "Enquanto era pobre desfigurado no caixão preto, vale o ditado: no cu dos outros é refresco. Só que o vulcão explodiu, entrou em erupção, e a lava que escorreu foi derreter sua mansão..."






[ AUTO-CRÍTICA ]
Sobretudo com quem se identifique com cultura punk hardcore, anarquismo, metal, socialismo e lutas anticapitalistas em geral, vou dividir um pensamento que me invadiu na perturbação da noite que antecedeu a construção desse texto e durante a própria construção dele...
Carregando o discurso impregnado do que mais enfrentamos, que é o da ostentação, com as marcas e todos os totens que louvam de jeito fanático ao capitalismo, arrastando cargas culturais odiosas feito machismo, esses meninos tem causado MAIS TRANSTORNOS aos setores capitalistas, ao estatal, ao privado... do que toda a cultura underground tem feito em décadas...

4 comentários:

  1. Não sei se vocês gostam de Colligere, mas em uma de suas músicas há uma frase perfeita pra essa situação: "Irônica e contraditória nossa voz denuncia a vida moderna em nome dos valores que a própria modernidade criou."

    Abraços, meus caros

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  2. Pensei também que em alguns momentos isto é mais transgressor do que muitos grupos "revolucionários" tem feito...

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