grindcore morto

--- CASAS BAHIA e RACISMO ---

AINDA SOBRE O RACISMO TÃO ESTRUTURADO NO BRASIL, 
e pra que venha ao conhecimento de tantos quanto possível...

Marcos Felinto é um musicista de talento difícil de mensurar - dentre seus muitos projetos musicais , por exemplo, há o incrível NOALA. Também é um excelente fotógrafo e educador em ONG e mais um porrilhão de outras coisas. 
Contudo, Marcos não se alinha no "eixão": homem/branco/heterossexual/burguês/cristão.
Compartilhamos então, o relato dele sobre o difícil momento que lhe aconteceu e que certamente já pegou muitos por aqui (ou ocorridos semelhantes...).

Chega ser difícil de categorizar, a coisa toda vai sendo disparada por gente que praticamente está em nosso mesmo patamar, que já sofreu, sofre ou vai sofre a mesma agrura.
É disparada por eles, mas arquitetada por gente montada nas costas deles...

E o que acho MAIS FODA ainda é que tudo vai acabar recorrendo, tudo vai acabar novamente partindo DAS MESMAS PESSOAS, do mesmo modo, durante muito tempo ainda e sob as mesmas supostas desculpas...

Marcos soube bem interpelar ao cara, tem orientação e boa estrutura emocional, cultural, educacional, política... ainda bem que compartilhou isso inclusive! Para servir de referência aos demais e tudo o mais... mas dá até tristeza imaginar o quanto isso ocorre diariamente, constantemente...
É complicado saber o que fazer no instante em que percebe que está dentro da boca de um retrocesso, um monstro que deveria estar morto há tempos...



CASAS BAHIA - Dedicação total a você ???
Este texto relata uma situação de exposição racismo que ocorreu comigo há uma semana atrás em uma das lojas da rede Casas Bahia, aonde também está situada a ong para a qual presto serviços. Durante a semana trabalho em outro local, como educador, mas uma vez por semana vou ao escritório da ong prestas contas e realizar planejamento.
A ong esta situada no prédio das Casas Bahia, da Xavier de Toledo, centro de São Paulo e o acesso para a mesma, para a loja e para administrativo da loja se faz pelos mesmos elevadores.
Desde que entrei neste trabalho sou barrado por seguranças das Casas Bahia, que frequentemente pedem identificação e me fazem passar por um cadastramento em um balcão da loja, antes que meu acesso seja permitido. Seria muito tranquilo passar por este “fichamento” caso todas as pessoas que conheço e que trabalham comigo também passassem, bem como as que não conheço e nunca conhecerei.
Estranhando a situação passei a perguntar aos meus amigos de trabalho, que por acidente da natureza nasceram quase todos brancos, ou dentro dos padrões considerados brancos no Brasil, se este tipo de situação ocorre ou já ocorreu com eles, a resposta em uníssono é sempre “Não, nunca nos pediram nada, entramos sem problemas”.
Em certas ocasiões os seguranças alegaram, que era pelo fato de eu vestir bermudas, porém em outras vezes em que vestia calças também tive o acesso dificultado. Chegando ao escritório encontrava amigas com saias na altura de minhas bermudas, e homens também com bermudas. Nenhum deles foram onerados por suas escolhas vestais.
A história não é nada nova, e dessa vez apenas aconteceu comigo. Abaixo segue o dialogo que marca o pico dessa tensão, e a minha constatação sobre as orientações discriminatórias e racistas oferecidas aos seguranças da loja.
Dia 12/12/2013, quinta feira passada, fui trabalhar no escritório novamente e fui interpelado por um seguranças desconhecido, perguntou, quem eu era, o que eu fazia e aonde ia, quando era obvio que eu ia em algum lugar no prédio, resposta mais apurada do que essa não era necessária, no entanto não foi a que eu dei, minha educação não permite um retorno “quase grosseiro” como esse. Respondi tudo, e devolvi:
- Mas por qual motivo você me faz todas essas perguntas ?
Ele (Wanderley Glauer – Segurança das Casas Bahia) - É por que aqui entram muito mendigos !
Eu ( Marcos Felinto - educador de ong) - Então pareço um mendigo?
Assim que essa conversa se iniciou uma parceira de trabalho chega e fica parada ao meu lado esperando o elevador e observando as injurias do segurança:
Ele (Wanderley Glauer – Segurança das Casas Bahia) responde – uhmm!!!, é que também tem o seu cabelo, parece rastafári!!!
Eu ( Marcos Felinto - educador de ong) – esse é meu cabelo, ele é assim crespo e longo e sua atitude é racista e discriminatória, diz como se meus traços fossem motivo de alerta.
Ao ouvir a palavra “racismo” Wandeley Glauer (segurança das Casas Bahia) se surpreendeu e disse sem saber para que lado se esquivar:
Ele (Wanderley Glauer – Segurança das Casas Bahia) – Mas você está sem crachá.
Eu ( Marcos Felinto - educador de ong) respondi – e você perguntou pra essa moça (branca) do meu lado sobre o crachá dela, você sequer questionou aonde ela vai, ela senta ao meu lado no escritório e você não a conhece também, no entanto o acesso dela ao prédio é completamente LIVRE. Por que você não pediu o crachá dela desde que ela chegou aqui?
Ele (Wanderley Glauer – Segurança das Casas Bahia) – Eu sigo ORDENS!!!
Eu ( Marcos Felinto - educador de ong) - A ordem é parar pessoas com o meu perfil?
Desconcerto, e falta de palavras para verbalizar aquilo que foge do script de um funcionário padrão pouco questionador. Sua resposta foi simplesmente facial.
Ele (Wanderley Glauer – Segurança das Casas Bahia) – Você está de bermuda!
Eu ( Marcos Felinto - educador de ong) - Ela não me faz assemelhar com um mendigo. E esta moça ao meu lado veste uma saia menor do que minha bermuda.
Elevador chegou subimos. Fiz o que tinha que fazer no escritório, desci, atordoado com o esse padrão sistemático e racista de perseguição que recaiu sobre mim e fiz uma queixa escrita e protocolada no administrativo das CASAS BAHIA.
Deixei contato, e até agora nenhuma resposta ou retratação oficial foi data, nem pelas CASAS BAHIA, que está ciente do ocorrido, nem pela empresa privada contratada pelas CASAS BAHIA, que neste caso é corresponsável pela situação vexatória.
O desconforto continua e o racismo continua velado em uma das lojas mais populares e insuspeitas do Brasil.
No piso térreo me dirigi ao segurança que me ofendeu e perguntei seu nome: WANDERLEY GLAUER, apenas para que eu guardasse, o mesmo alegou estarmos lidando com um simples mal entendido. Seu superior chegou e repetiu a mesmo tipo de dissuasão. Não satisfeito foi ao andar no qual trabalho, após minha saída intimidou outros funcionários da ong, no intuito de saber meu nome. Sem pestanejar amigos de trabalho cederam sabendo de todo o ocorrido e seguros da recorrência no erro e discriminação da parte das CASAS BAHIA.
Lá negro pode gastar, mas não trabalhar, não como todos os demais não negros.

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