Minimamente falando, as ações de depredação recentes bra$il adentro assumem um caráter "pedagógico". Provado está que "um governo teme seu povo..." (do blablablá hollywoodiano) quando esse povo se faz ver. Provado também que não é necessário ser "black bloc" para se fazer perceber dessa forma e ainda que, dentro dessa constantemente convulsiva organização social, essas ações deixam os recados de que não suportamos mais e também aos poucos surge algo como "não se metam mais conosco...".
Mas segue a republicação do texto no blog de Negro Belchior em Carta capital, antes que discutamos sobre esses tristes incidentes do último dia 28/10/13...
Jovem de 17 anos é assassinado por Policial Militar, na Zona Norte de São Paulo
“Cê viu ontem? Os tiro ouvi de monte! Então, diz que tem uma pá de sangue no campão.
‘Ih, mano toda mão é sempre a mesma ideia junto: treta, tiro, sangue, aí, muda de assunto (…)”
Por Douglas Belchior
Douglas Rodrigues podia ser meu aluno. Cursava o terceiro ano do ensino médio e trabalhava em uma lanchonete. Tinha só 17 anos. Nesta segunda (28), passava com o irmão de 13 anos em frente a um bar quando foi abordado por policiais, quando sofreu um disparo certeiro no peito. “Por que o senhor atirou em mim?”, teria perguntado ao PM, segundo a mãe, Rossana de Souza. Douglas foi levado a um hospital da região, mas não resistiu.
Os agentes averiguavam uma suposta denúncia de “perturbação de sossego”, segundo o Boletim de Ocorrência, por conta do som de um carro que tocava funk. “Ele deu o tiro dentro do carro. Não falou nada, não teve nem reação”, disse uma testemunha. Já o policial afirmou que o tiro foi acidental. Ele foi autuado em flagrante por homicídio culposo, quando não há intenção de matar.
A equipe da Coordenação de Juventude, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos da cidade de São Paulo está em contato com a família e informou que oferecerá todo o apoio e orientação.
Quem vai responder a pergunta do Douglas?
Ele perguntou ao estado, ao poder, aos governantes: Por que atirou em mim? Estavam na Vila Medeiros para garantir o “sossego” da comunidade. O que isso tem a ver com tiros, truculência e terror? O tiro foi acidental? De novo? E no peito? Travestidos como acidentes, o fato é que a violência e a morte tem uma estranha predileção etária, étnica, social e geográfica: as vitimas são sempre jovens, negros ou pobres e moradores de periferias.
Queria mudar de assunto, como sugere o verso do Racionais, relembrada acima. Mas a realidade não deixa! Uma das principais reivindicações dos movimentos populares hoje no Brasil é justamente a desmilitarização das polícias e a consequente extinção da PM. Está provado que, em nome do Estado e dos interesses privados que o dirige, a PM existe para reprimir e matar negros e pobres.
Políticas públicas, por mais bem intencionadas que possam parecer – como é o caso do Juventude Viva, não darão conta do problema da violência urbana se não tocarem a dimensão da política militar genocida vigente. Como já descrevi num outro momento, “O assassino não pergunta ao pretinho se é assistido pelo bolsa família; se está matriculado no curso técnico; se frequenta o projeto social da Ong do bairro; se foi cabo eleitoral do deputado eleito pelo distrito; se está inscrito para a prova do Enem; ou se já marcou a entrevista no balcão de empregos da central sindical.” Exatamente como aconteceu com Douglas, o assassino cumpre, fardado ou a paisana, sua tarefa: ele mata! E depois faz uso dos instrumentos legais da carnificina, característicos da hipocrisia democrática que vivemos e alega resistência ou ação culposa, sempre “sem a intenção de matar”.
Aliás, esse é o argumento jurídico do Estado Brasileiro para negar o genocídio de sua juventude: “Não há a intenção”, apesar dos fatos. Mas o que importa ao morto ou a família do morto se houve ou não a intenção de matar? O que importa a intenção, se os velórios e a dor são irreversíveis?
Transfiro a pergunta de Douglas para vocês, Governador Alckmin e Presidenta Dilma, que preferiram o conforto do Palácio dos Bandeirantes a participação no lançamento do Plano Juventude Viva no último dia 25, no Campo Limpo, quando poderiam ouvir de nós as angustias e talvez – a partir de uma ação concreta, caro governador, evitar mais um assassinato.
Por que o policial atirou? Por que sempre atiram? A tropa obedece, o comando treina, a direção ordena e os chefes de estado se responsabilizam. Então respondam Alckmin e Dilma, porque Douglas foi assassinado? E até quando outros serão? E vocês, que se solidarizaram à PM imediatamente após a agressão sofrida pelo Coronel Rossi, o que tem a dizer agora?
Chega de hipocrisia. A PM mata negros e pobres todos os dias!
(Participe da Audiência Pública Sobre o Genocídio da Juventude Negra em SP)
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